sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

O sorriso de um morto

Linda era a menina que escrevia no seu corpo. Por dentro.
Se estivesse com os olhos bem fechados e um ar concentrado, certamente estaria escrevndo mais uma página em vermelho de seu delicado livro.
As palavras vinham atropelando seus pensamentos e demorava a perceber quando essas deixavam de ser suas. Eram caso de publicação.
Algo sabia sobre elas: Deviam ser escritas nas paredes da pele que dão pra dentro.


"Qualquer pessoa fica bonita comendo manga" - escreveu pela manhã perto da barriga.

Gostava do rosado, gostava de perfurar-se por dentro, pensava que era a coisa mais bonita que podia fazer com a vida (essa coisa desavisada que lhe deram e parecia não servir para nada).

Tinha criado um senso de justiça – acreditava que cada pessoa teria direito a uma única pergunta respondida.
Pensava que era mais do que justo e então definiu que ia acontecer. Sempre imaginava o dia em que enfim saberia o que perguntar e uma voz alta (que só ela poderia ouvir) saberia o que responder. O faria de maneira clara e poderia voltar a viver.

Sobre o livro, achava que era a coisa mais bonita que poderia fazer com a vida.
Era um segredo maravilhoso.

Uma coisa era certa - Estaria escrevendo para ser lida.
O pensamente sobre a morte a transtornava: Saberiam os vivos o que fazer? A abririam em páginas e leriam todos em multidão?
Sua dádiva estava justo no que fazia sem tatear, cegueando a vida.
"Quando fecho os olhos vejo coisas maravilhosas"- teria escrito em circunferência sob os olhos e nuca.
Sabia tanto sobre sua ignorância que podia chamar qualquer coisa de verdade. A vantagem de quando não se tem nada é que se pode ter todas as coisas, até as inventadas.

Menina sem nome de letras em carne.
Era uma habilidade, uma habilidade de fé.


Então...
Que a cortem em finas camadas! Certamente abrirá um sorriso morto ao ser estilhaçada e devorada pelos olhos do mundo. (Às vezes só o que se precisa é do sorriso de um morto).

Eu sinceramente penso que nada disso importa.
Gosto de admirá-la no azul de sua pele morta e sentir o sabor de pergunta respondida. (Ouçam! O que importa é a pergunta respondida!)
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Anexo- Ao final as leram os vermes!
Mas esse não é um final amargo. Afinal, Saberia ela viver uma tristeza gelada?

Tristeza de ontem, Tristeza de hoje, tristeza depois.
Tristeza sem carne. Tristeza de quem? Tristeza de quando? Tristeza de quando?
Triste.

De novo como samba:

Tristeza de ontem, Tristeza de hoje, tristeza depois.
Tristeza sem carne. Tristeza de quem? Tristeza de quando? Tristeza de quando?
Triste.



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